domingo, 16 de março de 2008

ATLETISMO EM CAMPOLIDE










“Os bons professores educam para uma profissão, os professores fascinantes educam para a vida” Augusto Cury


O SONHO COMANDA A VIDA…

Álvaro Costa, nascido e criado no Bairro da Liberdade, despertou para o atletismo nos idos anos setenta. Eu já praticava corrida há alguns anos (dois ou três), tinha algum conhecimento básico, e via no Álvaro excelentes condições morfológicas para a corrida de fundo, e depois de muita insistência por mim exercida, ele lá se convenceu (felizmente) a praticar a modalidade. Naquela altura, os conhecimentos e as condições técnicas e de treino, eram muito rudimentares. Era necessário muito amor e espírito de sacrifício para se praticar atletismo no Bº da Liberdade. Mas ele sempre se revelou ser lutador e perseverante e, com mais ou menos dificuldade conseguiu superar os obstáculos surgidos pelo caminho. Ao fim de um ano de actividade, foi prestar provas num torneio de captação do S. L. e Benfica, e o inevitável aconteceu: foi apurado para integrar as fileiras da equipa de juniores. Por lá esteve um ano no escalão, onde alcançou bons resultados. Porém, chegado a sénior, onde a carga de treino sobe consideravelmente, não conseguiu corresponder, face ao esforço dispendido na sua actividade laboral (montagem de elevadores), aos anseios e pergaminhos dum clube como o S. L. e Benfica, e teve que mudar de clube, passando depois pelo C. F. “Os Belenenses”, Centro de Atletismo de Campolide e muitos mais clubes onde alcançou bons resultados como os 3m50s nos 1500 mts; 8m25s nos 3000 mts; 14m12s nos 5000 mts; 29m58s nos 10000 mts; 1h03m52s na Meia maratona e 2h17m32s na Maratona. Álvaro Costa faz parte da Brigada Fiscal da G.N.R. e nessa qualidade participou em várias equipas militares campeãs do mundo de estrada e corta-mato. Actualmente, como veterano, alcança óptimos resultados e vitórias no seu escalão etário – M45 (homens com idade entre os 45 e 49 anos).

Face às dificuldades por que passou, Álvaro Costa sempre sonhou um dia poder transmitir as suas experiências e o seu passado aos mais novos e, dentro das suas possibilidades, criar as melhores condições, no Bº da Liberdade, para a prática da modalidade.

Por razões que agora não interessam, as vidas de Álvaro Costa e do músico João Gil cruzam-se, e deste contacto nasce um forte relacionamento de amizade e desportivo. Álvaro Costa apresenta o seu projecto a João Gil, e este, acha-o interessante e promete apoiá-lo. O que de resto, tem vindo a fazê-lo ao seu melhor nível. Destes contactos nasce uma parceria entre o Centro de Recreio Popular do Bº da Calçada dos Mestres e o Externato de Educação Popular que, com o apoio de algumas empresas que patrocinam o projecto – Montepio Geral, ANA Aeroportos, Aquilino Ribeiro – construções e a Néstle - levam hoje, cerca de 40 jovens de ambos os sexos, a terem um primeiro contacto com a modalidade e, numa primeira fase, a experimentarem o mais possível as disciplinas do atletismo. O principal objectivo não é fazer-se campeões – mas porque não – mas sim levar as crianças a gostar da modalidade e a praticá-la nas suas mais variadas vertentes.

FERNANDO MAMEDE VISITA ESCOLA…




Dentro deste espírito, Álvaro Costa começa por convidar uma grande figura do nosso atletismo para uma prelecção aos seus alunos: Fernando Mamede
Pelas 16 horas do dia 14 de Março, no pavilhão do externato, lá estava Fernando Mamede rodeado de alunos a ouvir a maravilhosa história e o currículo do ex recordista do mundo em 10 000 metros.

Fernando Mamede começa por dizer que tudo começou aos 14 anos, ainda em Beja. Depois, já em Lisboa e no Sporting, começou por fazer curtas distâncias (400/800mts). Com calma, disciplina e vontade de vencer, foi evoluindo, quer nas distâncias (1500/5000/10000 mts), quer na categoria onde, a nível nacional foi várias vezes campeão. A nível internacional e nos campeonatos do Mundo, Europa e Jogos Olímpicos, não ganhou tantas medalhas como gostaria – e dizemos nós: merecia e tinha mérito para isso – por razões psicológicas, onde ele deu como exemplo: o aluno que está bem preparado para o exame, mas chegada a hora H, dá-se uma branca no cérebro não corresponde e é chumbado. Porém, ainda a nível internacional, mas no âmbito dos “meetings”, já mais “solto”, foi dos melhores do mundo: chegou a ser recordista da Europa e do Mundo em 10 000 metros, ganhou vários meetings e, ao longo de três anos a nível mundial e cinco anos europeu, não perdeu uma corrida, das muitas, em que participou!

Fernando Mamede chamou muito atenção para a importância dos estudos, estes acima de tudo. Chamou também atenção para a disciplina, rigor e respeito para com o Monitor ou treinador. Onde salientou o facto de ter tido só um treinador, pela simples razão daquele ter sido, se não o melhor, um dos melhores treinadores do Mundo (Mário Moniz Pereira).

Depois da prelecção, manifestou a satisfação por este projecto. Disse ser interessante o envolvimento dum grande músico do nosso país, como é o caso de João Gil. É bom para a modalidade, mas sobretudo para as crianças, que hajam estes projectos, em que todos só têm a ganhar com eles: as crianças, a modalidade, as instituições, a localidade e o país.



“Os bons pais preparam os filhos para os aplausos, os pais brilhantes preparam os filhos para os fracassos” Augusto Cury


A Irmã Nazaré, Directora da escola, ouvida por nós, teve também ocasião de manifestar a sua alegria e satisfação por este projecto. Começou por dizer que numa primeira fase, houve alguns obstáculos a contornar, mas agora tudo vai bem. Informa-nos que integrado neste projecto há também aulas de música. À pergunta se o atletismo não prejudicava a vida escolar, a resposta foi célere e convicta “De modo algum, bem pelo contrário!” “Uma coisa desenferruja a outra e vice-versa!” Ainda segundo a Irmã Nazaré, a satisfação estende-se aos pais dos alunos que lhes transmitem satisfação e melhorias no comportamento dos seus filhos.

Entretanto decorreram dois torneios de jovens nas pistas dos Estádios Universitário e Restelo. Perguntámos ao Álvaro Costa qual o balanço destes cem dias e da prestação da equipa nestes torneios: “O balanço não podia ser mais positivo. Como tudo na vida, de início houve muita dificuldade para pôr a “máquina em movimento”. Hoje as coisas estão a entrar nos “eixos”. Havia muitos jovens sem um mínimo contacto com a modalidade, sem hábitos nem disciplina de treino. Tudo isso estar a ser muito bem assimilado por eles e as coisas estão a tornar-se mais fáceis. No aspecto técnico, há já jovens a revelar talento para a velocidade, e outros para as disciplinas técnicas e estou muito satisfeito com a evolução deles. A prestação da equipa nestes torneios, não podia ser melhor. Sem grandes treinos de blocos de partida, há resultados interessantes a nível de provas de 40 e 60 metros, assim como também no comprimento. Mas como disse no início, para já os objectivos não são “fabricar” campeões a nível júnior – se aparecerem não os enjeitaremos – mas sim a nível sénior”.